Naquele dia, ouvi elas dizendo: Queremos ir, mamãe, queremos ir!
Era uma mistura de alegria com choro. Minhas filhas são fortes. O Pedro é meu filho do meio, tem 12 anos… a Ana Júlia, tem 14 anos , e a Giovana tem 9.
Sempre amorosas, sempre me aguardavam na chegada com sorrisos e lágrimas. Na partida das corridas, sempre ouvia os gritos: “vai mãe, vai mãe!”
Mas assim como em casa, na escola, terapias, fazemos e compartilhamos tudo, assim, juntinhos. Em todos os momentos. Como por exemplo, ficarmos quietinhos na cama, quando mamãe estava febril. Quando vamos ao mercado e todos carregam o carrinho e a cadeira de rodas.
Ter um irmão com deficiência, é ter um coração cheio de generosidade.
Naquele dia, não foi mais uma corrida… Elas não queriam ficar esperando. Elas foram. A Ana Júlia tinha 11 anos e correu 6km do meu lado, no triciclo.
A gigi amora (Giovana), pegou carona no suporte de pé do triciclo do Pedroca, e corria um pouco, sentava, corria. Eu, literalmente levava meu coração ali, fora do corpo, pulsando em três corpos. Bastava levantar a cabeça eu enxergava meus três bons motivos para não desistir nunca.
Numa subida forte, disse para minha Ana Júlia: Senta também filha, a subida é forte. Ela apertou minha mão. “Mamãe, estamos juntas, quero ser corajosa igual você”
E ela que não sabe, mas essa coragem é o reflexo dela nos meus olhos. Esterei sempre do seu lado e dos meus irmãos. E fomos entre suor, risos e lágrimas. Minhas filhas não tem noção, mas elas não sabem como serão fortes para enfrentar os desafios que a vida lhes apresentar.
E sempre que corro com os três , juntos, me lembro: Corra como as crianças, como as crianças. Livres, sorrindo, sem metas, sem tempo.
Nossa brincadeira, nosso time, nosso momento de alegria em estarmos juntos. E essa sensação de que podemos nos emocionar, sorrir, chorar, brincar, comemorar, tudo junto, na mesma corrida, pois assim como na vida, não temos tempo para parar e tentar explicar, basta sentir. O melhor presente que pude dar para cada um dos meus três filhos, foram seus irmãos.
O Pedro nessas horas é só sorrisos, se sentindo um time completo. Se sente amado, acolhido, inserido, e o faz querer ir novamente sempre, pois Liberdade é saborear uma corrida sem apostar corrida com ninguém. No seu ritmo, o do coração e da gratidão. E o Pedro sente toda essa energia e fala com o seu olhar, pensando…
Quando mamãe coloca a medalha em mim, depois da corrida, através do sorriso demostro como fico feliz em poder celebrar a minha vida. Mamãe sabe que na corrida, assim como na vida, medalha não se ganha, se conquista.
Ser atleta é saber que a força não vem da capacidade física, mas de uma vontade indomável.